Eu já tinha falado rapidinho sobre a tradição igualitária entre homem e mulher na Finlândia naquele post onde eu conto o episódio do Homem-Audi. Hoje, aqui em Tampere onde vim resolver minha inscrição pro doutorado, eu lembrei de um causo de alguns meses atrás ocorrido bem no centro da cidade.
É um exemplo bem direto de como homem e mulher têm os mesmos direitos por aqui, por mais infames que este especificamente possa ser...
Era uma tarde do comecinho do verão, ao fim de Junho. Eu lembro bem porque naquela época eu andava pensativo pela cidade, imaginando como seria a saída do agora antigo emprego.
Saí da empresa que fica ali nos arredores da antiga indústria Fynnlaison e caminhei lentamente pela margem do canal Tammerkoski até a rodoviária. O dia estava lindo, o sol estava forte e a brisa fresquinha. Ou seja, perfeito pra se esquecer um dia longo de um trabalho chato. E não fui o único a ter a mesma idéia.
A margem do Tammerkoski é um ponto popular de encontro do pessoal nas tardes longas e ensolaradas de verão. Estudantes, aposentados, "a toas", trabalhadores em horário de almoço , ou depois do expediente, ou no popular coffeebreak mais longo do que o permitido... muitos vão para ali, sentam na grama e relaxam.
Uns levam suas garrafas térmicas com café, outros sentam e ficam olhando pro nada curtindo seu momento tupakka (quando saem pra fumar), outros acendem, puxam, prendem e soltam a névoa do cigarrinho do tinhoso (como alguns amigos chamavam maconha na faculdade em Niterói), quase todos têm alguma coisa alcólica pra beber: seja olutta (cerveja), seja siideri (cidra), seja lonkero (long drink), e no caso tradicional dos velhos bebuns, vodka e kosu. Enfim, geralmente não pega muito bem beber em lugar público, mas ali, no verão e sem fazer algazarra, pode.
Aí, desviando de moleques fazendo presença pras meninas, de velhos curvados falando sabe-se lá do quê enquanto compartilham a garrafinha ... desviando desses eu segui meu caminho. Com um pouco de inveja da cervejinha, mas pensando que aquilo daquele jeito (cerveja quente), naquela hora não era pra mim. Ia caminhando pro meu ônibus, contando os minutos pra pontualidade finlandesa mais uma vez se comprovar...e de repente, no que olhei pro lado, vi aquilo que não me espantaria em qualquer situação semelhante, mas ali foi um baque de leve.
A pessoa senta e bebe, bebe, bebe...uma hora tem que sair, certo?
Pois as muitas árvores pelo caminho viram possibilidade pra que aquela multidão de indivíduos preocupados com o meio-ambiente exercitem seus deveres de cidadão: todos vão regar as plantas e mantê-las hidratadas enquanto a chuva não cai. E de trás de uma saiu uma pessoa que acabara de fazer seu xixizinho sem se preocupar com o fato de haver no outro lado um terraço cheio de gente a vendo aliviar a pressão.
Claro que não me incomodo, apesar de não ter precisado do recurso da via pública aqui na Finlândia ainda. Mas o que chamou a minha atenção - e do pessoal do terraço, pq eu vi que eles estavam olhando surpresos, e rindo... - foi o fato de que aquele que vinha ajeitando as calças deve ter precisado de muita coragem pra arriá-las e agaixar pra sair do sufoco.
Detrás da árvore eu vi o símbolo da igualdade entre homens e mulheres na Finlândia: afinal, todos têm o direito de fazer xixi em lugar público. Tão simbólico e mais econômico e ecologicamente sustentável do que queimar sutiãs, ninguém pode negar.
Nota do Blogueiro: Esse foi um daqueles famosos casos isolados, tá? Não vai sair por aí dizendo que eu falei que as finlandesas (como em "todas as finlandesas") fazem a mesma coisa.
É um exemplo bem direto de como homem e mulher têm os mesmos direitos por aqui, por mais infames que este especificamente possa ser...
Era uma tarde do comecinho do verão, ao fim de Junho. Eu lembro bem porque naquela época eu andava pensativo pela cidade, imaginando como seria a saída do agora antigo emprego.
Saí da empresa que fica ali nos arredores da antiga indústria Fynnlaison e caminhei lentamente pela margem do canal Tammerkoski até a rodoviária. O dia estava lindo, o sol estava forte e a brisa fresquinha. Ou seja, perfeito pra se esquecer um dia longo de um trabalho chato. E não fui o único a ter a mesma idéia.
A margem do Tammerkoski é um ponto popular de encontro do pessoal nas tardes longas e ensolaradas de verão. Estudantes, aposentados, "a toas", trabalhadores em horário de almoço , ou depois do expediente, ou no popular coffeebreak mais longo do que o permitido... muitos vão para ali, sentam na grama e relaxam.
Uns levam suas garrafas térmicas com café, outros sentam e ficam olhando pro nada curtindo seu momento tupakka (quando saem pra fumar), outros acendem, puxam, prendem e soltam a névoa do cigarrinho do tinhoso (como alguns amigos chamavam maconha na faculdade em Niterói), quase todos têm alguma coisa alcólica pra beber: seja olutta (cerveja), seja siideri (cidra), seja lonkero (long drink), e no caso tradicional dos velhos bebuns, vodka e kosu. Enfim, geralmente não pega muito bem beber em lugar público, mas ali, no verão e sem fazer algazarra, pode.
Aí, desviando de moleques fazendo presença pras meninas, de velhos curvados falando sabe-se lá do quê enquanto compartilham a garrafinha ... desviando desses eu segui meu caminho. Com um pouco de inveja da cervejinha, mas pensando que aquilo daquele jeito (cerveja quente), naquela hora não era pra mim. Ia caminhando pro meu ônibus, contando os minutos pra pontualidade finlandesa mais uma vez se comprovar...e de repente, no que olhei pro lado, vi aquilo que não me espantaria em qualquer situação semelhante, mas ali foi um baque de leve.
A pessoa senta e bebe, bebe, bebe...uma hora tem que sair, certo?
Pois as muitas árvores pelo caminho viram possibilidade pra que aquela multidão de indivíduos preocupados com o meio-ambiente exercitem seus deveres de cidadão: todos vão regar as plantas e mantê-las hidratadas enquanto a chuva não cai. E de trás de uma saiu uma pessoa que acabara de fazer seu xixizinho sem se preocupar com o fato de haver no outro lado um terraço cheio de gente a vendo aliviar a pressão.
"E daí, Léo? Vai dizer que em momentos de aperto você se incomoda com a presença do público na hora de sair do aperto?", você pode perguntar.
Claro que não me incomodo, apesar de não ter precisado do recurso da via pública aqui na Finlândia ainda. Mas o que chamou a minha atenção - e do pessoal do terraço, pq eu vi que eles estavam olhando surpresos, e rindo... - foi o fato de que aquele que vinha ajeitando as calças deve ter precisado de muita coragem pra arriá-las e agaixar pra sair do sufoco.
Detrás da árvore eu vi o símbolo da igualdade entre homens e mulheres na Finlândia: afinal, todos têm o direito de fazer xixi em lugar público. Tão simbólico e mais econômico e ecologicamente sustentável do que queimar sutiãs, ninguém pode negar.
Nota do Blogueiro: Esse foi um daqueles famosos casos isolados, tá? Não vai sair por aí dizendo que eu falei que as finlandesas (como em "todas as finlandesas") fazem a mesma coisa.