Versão modificada do texto original após algumas observações críticas. Modified version of the original text after some critical remarks.
"Muistatko ensimmäinen kerran, kun teit jotain kiellettyä?"
"Lembra da primeira vez que você fez algo proibido?"
"Do you remember the first time you did something forbidden?"
Se tem uma coisa do cinema finlandês que eu adoro é a introspecção que alguns filmes exploram. Seja qual for o enredo, você se pega pensando em sua própria vida, o que você mesmo fez ou faria em situações parecidas. Ou em sentimentos parecidos em situações diferentes. Tipo, ontem assistimos à "Kielletty Hedelmä" (Fruto Proibido), produzido este ano e dirigido por Dome Karukoski.
If there is something about the Finnish cinema that I love very much is the introspection that they generally lead to. Whatever the plot is, you get yourself thinking about your own life, what you would do in similar situations. Or about your own similar feelings in different circumstances. Yesterday we watched "Kielletty Hedelmä" (Forbidden Fruit), produced this year and directed by Dome Karukoski.
O filme fala de duas adolescentes que pertencem ao laestadianismo. Este é um movimento conservador cristão que entre outras coisas não permite métodos contraceptivos e outras liberdades sexuais antes do casamento. Uma das meninas - Maria - está curiosa em conhecer o mundo - quer sentir coisas - e decide passar um verão fora. Raakel é enviada para cuidar da amiga, como um anjo. E nesse tempo fora elas passam por algumas situações diferentes, boas ou ruins. No fim, a religião fica nos seus corações mas a experiência as transforma surpreendentemente.
The movie tells of two young girls who belong to the Laestadianism. This is a conservative christian movement that among other things does not allow anti-conceptive methods and other sexual liberties before marriage. One of the girls - Maria - is curious to know the external world - she wants to feel things - and decides to spend a summer out. Raakel is sent to take care of the friend, like an angel. In this period, they go through a number of different situations, good or bad ones. In the end, the religion remains in their hearts but the experience surprisingly changes them.
O filme lida com uma crença religiosa e isso é um assunto polêmico. Só que apesar deste fundo controverso, a história das meninas me fez viajar na pergunta feita acima, tirada do poster do filme.
The fact that it deals with a religious creed as such feeds the polemic. However, even with the controversial background, the story of the girls made me travel within the question made above, copied from the poster of the movie.
O diretor abusou dos closes. Os olhos, as mãos... O pavor pela moral, o desejo pela cidra, - de maçã, informou o garçom - o medo do beijo. O sorriso de prazer, as rugas de raiva. E a música suave te leva. Nos olhos das meninas você vê seu reflexo. Lembra?, te insistem.
The director made really good use of close-ups. The eyes, the hands... the fear for the morals, the desire for the cider - made of apple, as the waiter informed - And the soft music takes you. In the light eyes you see yourself. Remember?, they insist.
A gente tem que lembrar das primeiras como se fossem as últimas?, eu pergunto. Por que não continuar fazendo "coisas proibidas"? Aqui minha cabeça sai do enredo do filme. Já não penso só na maçã. Lembro das pressões ao sair de Magé pra uma cidade maior, de algumas reações quando decidi sair do país, dos olhos surpresos na empresa aqui quando saí "só pra estudar"...
Do we have to remember the first ones as if they were the last ones?, I ask. Why not keep doing "forbidden things"? Here my head leaves the plot. I am not thinking only about the "apple". I remember the pressures when I left my hometown for a bigger city, of some reactions when I decided to leave the country, of the surprised eyes when I decided to leave the work "only for studying"...
Será que só quando se é novo (e inconsequente) que se tem direito de provar frutos proibidos? Será que depois que a gente cresce a gente tem que parar de descobrir? Será que temos que nos penitenciar e sofrer toda vez que desejamos sair do comum, da rotina? Será que temos que estar presos à tradições, às "coisas como elas são porque são assim e pronto"?
Is it so that only when you are young (and careless) that you have the right to try forbidden fruits? Is it so that after we grow up we need to stop discovering? Is it so that we have to punish ourselves everytime we wish to leave the ordinary, the routines? Is it so that we have to be stuck to traditions, to "the things as they are because they are like that and that is it?"
Por que não deixarmos nos levar - com respeito aos outros, a si próprio e sabedoria - por coisas que nos deixem felizes de fato? É isso que vemos no fim do filme. É possível ser feliz dentro do normal? Sim. É possível que o diferente nos satisfaça mais? Sim. O ruim é passar a vida toda desejando algo e se prender a ponto de estar seguro e de acordo com as "leis", mesmo que sofrendo por dentro sem saber o gosto dos "pecados".
Why not letting ourselves go - with respect to the others and to oneself, and wisdom - for things that make us genuinely happy? That is what we see in the movie. Is it possible to be happy within the normal life? Yes. Is it possible that the different satisfies us better? Yes. The bad thing is to spend the life desiring something but hold oneself to the point of being safe and according to the "laws", even if suffering inside for not knowing the taste of the "sins".