O Léo continua na Finlândia, mas o blog chegou ao fim. As postagens favoritas do autor estão aí para a memória dele e de quem tiver sem nada melhor pra fazer além de ler blog velho. :) Qualquer coisa, entra em contato por e-mail: lecczz@gmail.com.

sábado, 18 de julho de 2009

Se fosse aquela coceira um conto, assim seria contada

ou

"Já que não é para tomar mais banho, que a desculpa seja bem contada"

Foi como mágica, ninguém sabe o que lhe causou tanto sofrimento. Horas depois, ele pensa e em nada mais consegue encontrar a razão se não nas gotas d'água que lhe atingiram enquanto aproveitava um dia de sol no verão finlandês.

A semana vinha sendo perfeita: viajando pelo leste finlandês com a mulher e, depois de uns dias, a sogra. Passaram por lagos, passearam de barca, beberam, se recolheram numa casa confortável a beira do lago Viinijärvi, ao norte da Karjala, perto de Joensuu. Aproveitaram a sauna, o sol, comeram um delicioso salmão e, cansados, foram dormir. Ele mal sabia que, no dia seguinte, sentiria na pele o que veio a descobrir depois do ocorrido ser algo rotineiro nessa época do ano, por essas bandas. Se ao menos ele soubesse quando fechou os olhos e adormeceu ao nao ouvir o zunido dos mosquitos que disputam bracos e pernas com abelhas e outros insetos.

Descansado, acordou feliz. Despertou a mulher e foram para mais um café da manhã antes de novas aventuras. Mais uma vez, passearam pelos arredores, visitaram lugares, amenizaram o calor com sorvetes, não fizeram nada que pudesse ter causado aquilo que em algumas horas lhe faria desesperar ao ponto de lhe arrancar a própria pele com as unhas.

"Daqui a pouco vamos passear de lancha", a mulher avisou. Em pouco tempo, embarcavam todos na máquina veloz que cortava o vento e as ondas, espalhando a água do lago pelo o ar, como se brincasse de sacudir os navegantes e sorrisse a cada gota que os molhavam. "Olha isso... estranho não tinha sentido nada até então", dizia ele enquanto apontava a axila direita para a mulher. Um pequeno caroco, como uma picada dos malditos zunidores. Nao poderia ser...eles não vivem tão distante da margem. Aos poucos, viram que aquele não era trabalho dos pequenos voadores do mal.

"Está enorme", ela se surpreendeu. Aos poucos, suas unhas rasgavam-lhe as pernas, os bracos e as costas. Nada parecia parar aqueles carocos de espalharem e se juntarem e formarem camadas vermelhas e inchadas em sua pele. Enquanto a máquina voava pelas águas, ele já não mais apreciava a vista. Só via suas pernas, e bracos e sentia seus olhos fecharem inchados. "Vamos voltar para casa, parece alergia. Nossa, está muito espalhado", disseram nos companheiros medindo a vermelhidão de sua pele que se extendia por ambos os bracos, e pernas, e costas...a cada salto da lancha, uma sensacão de agonia. "O que é isso? E se não parar de inchar?", pensava. Chegaram à borda, a máquina deu sua última risada enquanto ele corria parando a cada passo para tentar parar o incômodo encravando suas unhas na própria carne.

"Tome esta pílula. Vamos levá-lo para Joensuu, você precisa ir ao hospital", disse a mulher. A sogra vou pelo asfalto. No caminho, as unhas já não tinham tanto motivo para continuar. Foi se sentindo melhor até que a médica lhe deixou entender que esse tipo de alergia - sabe-se lá porquê tenha sido causada - é muito comum e que não havia com o que se preocupar. No fim, sentiu-se aliviado com o fim da angústia e a possibilidade de poder aproveitar a noite com tranquilidade. O mistério ainda continua: não se sabe a causa da alergia.

Por via das dúvidas, ele decidiu nunca mais chegar perto d'aguas, incluindo aqueles que até então lhe banhavam diariamente.

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O problema foi identificado como urticália - não alergia - e veio e foi em algumas horas sem maiores consequências. Eu, quer dizer, "ele" já está bem e indo pra noitada com a família aqui em Joensuu.

:)