O Léo continua na Finlândia, mas o blog chegou ao fim. As postagens favoritas do autor estão aí para a memória dele e de quem tiver sem nada melhor pra fazer além de ler blog velho. :) Qualquer coisa, entra em contato por e-mail: lecczz@gmail.com.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aprendendo a viver aos 30 - Como a vida mudou na Finlândia

Perdi a bola numa das muitas trombadas com finlandeses troncudos e caí. Dobrei os joelhos, coloquei as mãos espalmadas no campo de terra batida e brita. Ali, com o joelho meio ralado e com a respiracão funda de um touro abatido e moribundo eu decidi dar um novo rumo na vida. As pernas pálidas que voavam por mim me abriram os olhos: ou eu cuidava mais de mim, ou a sensacão dos noventa aos trinta dominaria não só meu corpo, mas minha mente e definiriam de vez a morte da minha juventude.

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Quando vim do Brasil, meu estilo de vida padrão dos vinte-e-poucos da minha cidade na região metropolitana do Rio de Janeiro: trabalho e estudo o dia todo, choppinho no fim da tarde. Churrasco todo fim de semana, talvez com um quilo de carne e três caixas de Brahma. Festas, pouco sono, muita ressaca. Mediamos a resistência do corpo em aguentar mais álcool. Bons tempos sim, mas idos. Precisei vir pra Finlândia e não aguentar uma partida de futebol para acordar para a vida.

Fala-se muito que os finlandeses bebem demais. É verdade. Mas esquecem-se de falar que grande parte deles não são vistos caídos pelas tabelas dos pubs, esquinas e parques. Depois de perceber o péssimo estado do meu corpo, comecei a correr ao redor do Pikku Vesijärvi, em Lahti. Naquelas duas ou três voltas iniciais pra ganhar ritmo há um ano e meio atrás, eu via famílias jogando discos, brincando de badminton, correndo, andando de bicicleta, pescando. E se você pensa que isso se resume ao verão, você está enganado. Quando a neve cai e cobre tudo de branco e os corpos de goretex e lã, ainda se vêem jovens e não-tão-jovens esquiando aqui, caminhando ali, patinando acolá... E a inveja que eu fui sentindo foi me dando mais forca: como que eu, aos vinte e alguns, não tinha disposicão para nada?

Eu já havia tentando malhar antigamente, ainda em Magé, por diversas vezes. Mas por pura vaidade e só. Tinha que ficar sarado porque era estético, tinha que ficar "no estilo". Malhava de dia, bebia e fumava a noite (mesmo que o cigarro por mtas vezes só me fizesse sentir mal). Era a onda e eu tinha que ficar nela. Afinal, eu não era fraco. Mudei de ambiente e percebi que a fraqueza estava em mim. A vaidade me cegou das estatísticas que dizem que os finlandeses são obesos, que usam carros pra tudo... Para mim, eles são pessoas que cuidam de si, que voam pelos campos de futebol (ou arena de hockei, ou entre as bases do Superpesis), que aguentam passar dias subindo e descendo ladeiras a pé ou de bicicleta, dos que vestem roupas justas sem medo e sem "silhueta acentuada", apesar dos seus trinta, quarenta e tantos. Minha vaidade tem inveja desses. Dos pecados capitais surgiu a minha nova virtude.

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O vento soprava meu rosto enquanto o pensamento se perdia nas trilhas do meu mp3 player. Um par de Puma eu calçava, como uma puma eu me sentia. O Pikku Vesijärvi agora é uma parte pequena de um caminho que rodeia o centro de Lahti. A formação geológica da cidade garante subidas leves pela Harjukatu e longas pela Hirsimetsäntie, íngrimes pela Mustankalliontie, e retas planas pela marina às margens do Vesijärvi. Os morros e suas trilhas garantem os trajetos off-road. A cada passada, o pensamento mais distante da preguiça, a pele cada vez mais próxima dos músculos, o fôlego restaurado sem pausa. A dor me fazia cócegas, me fez rir ao constatar que ao virar a esquina, eu teria corrido milhares de metros que antes eu só seria capaz em tão pouco tempo se montado na motocicleta de outrora.

Coloquei as mãos espalmadas sobre a cerca da sacada do nosso apartamento e sentei. Dobrei os joelhos e me estiquei pelo chão. Com a respiração funda de um urso ao despertar, sorri ao ver que a vida está ótima do jeito que está. O suor escorria umidecendo a camisa e refrescando minha pele cada vez menos flácida. Essa semana, eu viro os trinta, mas sem a sensação dos noventa. Hoje, eu domino meu corpo e minha mente, onde minha juventude é eterna sem que morra, sem que me faltem pernas para acompanhar os fortes e ágeis peladeiros finlandeses.
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Há um ano, entrei na academia (Finnbody). De lá para cá, perdi quase 10 quilos, consigo abaixar para amarrar o tênis sem dobrar o joelho e sem perder a respiração, minha barriga de chopp finalmente está sumindo (finalmente aprendi o que é beber moderadamente). Ter vindo para a Finlândia ajudou muito: a cerveja é mais cara, os hábitos são diferentes... Mas se não tiver atitude, não há comida saudável e exercícios físicos que te façam sentir bem.
Minha meta agora é: terminar a corrida de São Sebastião, em Janeiro, no Rio, em 55 minutos. Eu hoje faço a distância em mais ou menos 1 hora. É pra esses cinco minutos que eu dedico cada pensamento na hora de comer, de beber, de dormir...de viver. E depois deles, eu penso em outra coisa pra continuar seguindo.
E você? No que pensa?